Sunday, June 10, 2007

Tempestade em copo de água!


(...) já não sei quanto tempo passou. Será que foram horas? Sim, horas...já se passaram horas. Continuo impávida. Abraçada a mim mesma com os olhos doridos. Sem alma. Sem vida.
Já estou familiarizada com o toque do telefone. Sabes quando ouvimos muitas vezes as mesma palavra ou o mesmo som. Se dissermos sempre “eu eu eu eu eu eu eu eu” muitas e muitas vezes, depois esse som é só um som, faz parte de nós. O toque do telefone já faz parte do meu espaço agora. É como se nem o escutasse e, no entanto, ele está ali ao meu lado. Há horas. Já se passaram horas.
Ainda bem que estou sozinha em casa. Achas que nos achariam doidos por discutir assim? Gritos, insultos. Depois o silêncio. Depois as lágrimas. Depois o arrependimento. Depois a dúvida.

Agora, apenas o telefone (...)

Imagino-te do outro lado. Agarrado ao telefone. A marcar indefinidamente o mesmo número. Será que tens mesmo esperança que eu pegue no telefone e te escute? O que me quererás dizer? Achas que temos mais que dizer? (...) às vezes, tenho medo de esgotar as palavras contigo. Tenho medo de um dia chegar junto de ti e, de repente, não ter nada para te dizer, não encontrar nenhuma palavra que se encaixe. Achas que isso nos pode acontecer?
Quero ter forças para chorar mas não consigo mais. Quando choramos demasiado atingimos aquele ponto em que já não sabemos o que é chorar nem para que servem as lágrimas. Já não nos lembramos porque começámos a chorar, já não sabemos se nos aliviou. Então paramos de chorar. Não há mais lágrimas.
Está a começar a incomodar-me o som do telefone não percebo porquê. Porque será que não desistes? Aliás, porque minto eu? Se desistisses talvez eu te ligasse. Talvez...

(...)

Agora percorrem-me milhares de lembranças. Quando inventei aquela música para ti e a gritei sozinha na rua...lembro-me da tua cara, não sabias se havias de rir ou pegar em mim e internar-me num hospício, decidiste-te por me abraçar e eu acabei por me calar e substituir os berros por um sorriso.

Talvez devesse atender...

Quando naquela vez eu meti na cabeça que podíamos mudar a cor do teu quarto e acabou tudo cheio de tinta menos a parede...lembro-me da tua expressão, querias chatear-te mas foste incapaz de gritar e mais uma vez acabámos abraçados.

Vou atender...

Do outro lado apenas o som do teu choro...
Passam-se horas.
Passam as lembranças.

Despedimo-nos com um “Amo-te” e vamos dormir. (...)


Setembro 2004


Encontrei o textinho perdido no meu quarto entre alguns rascunhos meus. Achei piada a esta parte...



Conclusão do dia: nunca me lembro do dia anterior...será grave? Se deixarmos uma situação arrastar-se talvez, mas só talvez, com um bocadinho de sorte, ela desapareça assim do nada. Tipo magia!



/eu própria





12 comments:

Anonymous said...

Gosto quando vasculho as minhas recordações e encontro textos, fotos, pensamentos que estavam entao perdidos. Fico com um daqueles sorrisos. beijinho

TP * said...

gostei deste texto :) ta' bastante forte, ate' eu o vivi! :)

a imagem ta' mt fixe tb!

eu do dia anterior lembro me, geralmente n m lembro e' do dia anterior ao dia anterior! lol

bjinho

Stranger said...

casa nova....adoro o branco e as tuas fotos

Menina que não gosta do tempo

Anonymous said...

Mais um texto excelente!

"Se deixarmos uma situação arrastar-se talvez, mas só talvez, com um bocadinho de sorte, ela desapareça assim do nada. Tipo magia!"

E eu pensava k nunca iria concordar com esta máxima e afinal enganei-me!

Bjinho

Francis said...

Excelente. Escrito com muita alma porque, obviamente, muito sentido. à flor da pele!

Ninguem said...

as tuas palavras são aconchego de muitos frios de alma.

Obrigada****

Anonymous said...

querida penso que todo o ser humano tem o dom de complicar o que é simples e todos passamos por essa maldita tempestade em copo de água...mas por fim tudo passa ;o)

beijocaaaaaaaa

P said...

Há momentos assim...

Unknown said...

hummm.... não há ferida que o tempo não cure... acho eu...

* beijo daqueles *

Anonymous said...

Deseo hacer el amor contigo
en una noche de luna llena
Donde nuestras almas se encuentren
y nuestros cuerpos se deleiten

Deseo hacer el amor contigo
en una noche clara bajo el cielo
resplandeciente de estrellas
Donde nuestros cuerpos jueguen al amor
y nuestras almas se regocijen

Deseo hacer el amor contigo
en una tarde de primavera
Donde nuestros cuerpos se entreguen
sin pudor ni reservas

Deseo hacer el amor contigo
y acariciar tu piel
centímetro a centímetro
Impregnar con tu sudor mi cuerpo
y quedar exhausta,
para después dormir tranquilamente
entre tus fuertes brazos

Deseo hacer el amor contigo
en una colina verde,
donde tengamos por testigo
los pájaros y las flores

Los pájaros nos darán la música
y las flores el perfume,
para con el impregnar
tu cuerpo desnudo y sensual.

Palabras del alma

vida de vidro said...

Não concordo muito com a tua conclusão porque ela só é verdadeira enquanto a magia existe... :)
Tempestades em copos de água, todos fazemos. Não convém abusar porque acaba por desgastar. **

S. said...

Quase pude ouvir o teu sorriso envolvendo cada recordação.

Muito doce.