Friday, September 08, 2006

Caminhar de mãos dadas (mas nao desta vez)

ela estava encostada a uma rocha, tentava a todo o custo encostar-se o mais possivel...nao queria que os seus pés ficassem ao sol, descalsa como estava certamente iria queimar-se (nao estaria ja queimada?)...
parecia entretida sem nunca retirar os olhos do chão numa incansavel luta para fugir ao sol que teimava em ganhar,em espaço, à sombra.ele ja estava a observa-la ha algum tempo, sabia muito bem que ela nao se queria queimar, ela tinha-o avisado que a ultima coisa que lhe poderia acontecer era queimar-se com o sol...mas ele nem sempre o tinha evitado...preparava-se agora para a enfrentar
.tambem ele descalso, caminhou pela areia e quando se aproximou ela fingiu nem o ver, continuava ocupada na sua tarefa (fugir de ti)...ele chamou-a e estendeu-lhe a mao, aí ela levantou os olhos vazios...sem o brilho habitual e isso chocou-o um pouco...fez sinal para que ela lhe desse a mão e fizesse o mesmo caminho com ele, mas nao desta vez.quantas tinham sido as vezes que ela aceitara caminhar de maõs dadas com ele...quantas as vezes que confiara naquelas mãos que a apertavam, que lhe davam segurança e lhe mostravam caminhos aliciantes que a tornavam estranhamente feliz...quantas (talvez tantas que nao posso conta-las sequer), mas nao desta vez.
era sempre irresistivel ver aquela mão chamar por ela, aquele olhar que ela ja conhecia...sorrisinho traiçoeiro de quem mente por prazer, mas ela gostava dele assim...mas nao desta vez.estava cansada, sufocada de tanta dor e desilusão, sabia que aquela mão que se lhe estendia à frente apenas a levaria para mais um caminho com um unico fim, o sofrimento.sabia que aquela mão a levaria a pisar a areia quente, e aí sim...o sol queimaria mais uma vez, entao todo o esforço dela junto à rocha seria em vão...nao, nao podia ceder à tentação de mais uma vez caminhar com ele (lutei tanto para te esquecer).
baixou a cabeça mostrando-lhe que nao queria, que desta vez nao iria com ele por aqueles caminhos desconhecidos...nao e nao, nao queria...nao podia, era a prova que era forte (tu és forte, tu consegues...[têm-me dito]).entao o rapaz, sem sequer uma hesitação, desistiu (desistes tao facilmente).
virou as costas, ela olhou ligeiramente para ele...sabia que mais cedo ou mais tarde o sol lhe iria queimar os pés, mas nao se importava agora! chorou, mas desta vez com a noção que era o fim...que estava livre, pura...sabia o quanto lhe custaria esperar que o sol desaparecesse para entao caminhar em segurança, sem se queimar na areia...tambem sabia que isso era quase impossivel, acabamos sempre por queimar os pés com o sol, toda a gente sabe isso!mas ela ja nao queria saber...iria esperar o tempo que fosse preciso ate deixar de avistar o rapaz, nesse momento irá levantar-se e fazer o caminho sozinha, sabe que o sol vai queimar, que os pés vão doer, mas acredita tambem que o mar estará no final dessa caminhada para a acolher...e aí nada a irá perturbar, a areia deixa de queimar.


(ainda nao iniciei a minha caminhada ate ao mar porque ainda te consigo ver...mas sei que cada vez mais longe...afasta-te)


/eu propria

1 comment:

Anonymous said...

O que naras é o teu amor?
De que falas menina?
Acaso falas de tudo o que vivemos ou tem algo mais a dizer?
O sofrimento é uma corrente, que escolhemos nos prender. Não há areia, o mar secou. O tempo fechou a última torneira, que respingava amor.
Mas de manhã tudo é novo e me engano de novo.
Mas não me faças lembrar, como se a mulher tambem tivesse sentimentos, pois na longa caminhada, ninguém sabe o que encontrei, tu não sabes por onde andei.