Friday, September 08, 2006

Abre a Janela

olho nua para o espelho partido, sinto que alguém me agarra, sinto os dedos sujos de uma mão
apertados contra os meus lábios impedindo-me de gritar, sinto o corpo preso, seguro a uma
força invisível. escuro...frio...começo a sufocar e posso ver no espelho as lágrimas escorrerem
apesar de não as sentir.toda eu estou imune, suja,perdida,lançada a um destino que não quis...


desespero...


subitamente consigo soltar-me desse ser que me aprisiona, gritar "ESTOU FARTA" e correr, correr muito para lado nenhum, correr para fugir apenas de uma pessoa: de mim!
a cada passo sinto-me mais afastada de ti, desse corpo em que habito. arranco os ponteiros gigantes daquele relógio sem horas que eu e tu construímos, acabo de vez com o tempo impossível que criámos, paro de fingir que "está tudo bem", que a vida é esse sol laranja...dispo a minha pele, com nojo dela...daquilo em que me tornei, corro mais e mais, nao encontro um único caminho, a minha vida de repente fica um deserto solitário no qual não me é permitido
mudar de rumo. deixo-me cair cansada, ainda mais perdida...choro até não suportar mais. talvez o muro posso ser destruído, quem sabe se as fitinhas com cheiro a baunilha ainda existem...e eu possa novamente sorrir.
despe tu também essa pele, deixa-te ser quem és...senta-te no muro comigo, ajuda-me a destruí-lo. pedir-te isto a ti que habitas dentro de mim não deve ser pedir muito...


ja abriste a janela hoje?

/eu própria

1 comment:

Nilson Barcelli said...

Já tinha lido este teu texto, mas não comentei na altura.
É muito bem escrito, mas noto nele algum desespero...
Beijos.