Ainda ontem eras apenas uns grandes olhos com um cabelo
enorme e escuro. Tanto cabelo, num rosto tão pequenino. Talvez eu tenha conversado
demasiado contigo, tu preferes hoje permanecer calada e escutar atentamente os
outros. A tua diversão era ouvir-me reproduzir os sons das bonecas e inventar
um enredo. Todos acham que aprendeste tudo comigo mas não é verdade. Tu aprendes
com o mundo. Observas o que quase ninguém vê, enquanto as pessoas te olham sem
verem quase nada de ti, achando mesmo assim que te conhecem. Esse teu lado
fugidio e selvagem, de quem pertence ao mundo, traz a vontade de te ter
apertado mais enquanto ali estavas, te ter observado melhor, escutado melhor. Não
tenho filhos, ainda. Não sei o que se sente. És a única imagem da saudade. Da certeza
que não te volto a ver tão pequenina, aninhada ao meu lado, sempre de ar tão
frágil, mas tão independente e rebelde ao mesmo tempo. Achei que nunca
conseguiria estar longe de ti. Quando me armava em forte e mudava de quarto,
acabava sempre por ir dormir ao teu lado.
Agora é tudo demasiado fugaz. É inegável o apertozinho cá
dentro quando me envolvo em lembranças. Mas o orgulho fala mais alto e deixa-me
deixar-te viver.
Parabéns.
4 comments:
tenho uma lágrima no canto do olho! este síndrome de irmã mais velha não facilita..
parabéns D ;)
Muitos parabéns :)
O teu texto está lindíssimo :D
Beijinhos!
Adorei o texto! Até porque tenho um irmão mais novo e conheço esse Amor.
Beijinhos**
É bom sentir esse orgulho. :) há pessoas mesmo especiais.
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