Friday, January 17, 2014

Gravidez, passo a passo




Ninguém está preparado para o que isto vai ser, ninguém! Tanto faz quando vamos descobrir, mas no dia em que vemos os 2 tracinhos no teste de gravidez, tudo muda. Nunca mais fui a mesma, e isto parece estúpido, sei lá, uma pessoa não muda assim, certo? Não deixamos de ser nós só porque descobrimos que estamos grávidas, que vamos ter um filho. A verdade é que, nesse exacto momento, a nossa cabeça começa imediatamente a mudar, a focar-se no pequeno rebento dentro da barriga e que, dali a um dia longínquo, será um bebé.
Eu não sabia o que me esperava. Não fazia ideia do que era sentir-me mais mãe. Naquele dia fiquei preocupada. Preocupada com tanta coisa, como iria divulgar a notícia, como iriam as pessoas receber a notícia, como iria sentir-me dali para a frente, como iria mudar o escritório para ser um quarto, como iria ser no trabalho...e um milhão de outras coisas sem grande importância. Não, não fiquei preocupada como iria ser mãe, isso vem depois.

Depois desse dia, todos os outros passam mais devagar. O tempo é contado de outra forma, todos os dias são analisados num calendário e o meu passou a reger-se pelas consultas, pelo tempo que falta para algo. No início foi o sufoco de saber que estava tudo bem. Ver ali um feijão de 7mm com um coração que nos faz cair lágrimas, muda tudo em nós. Caramba, chorar por um ser de 7mm, onde já se viu? Porque passamos a gostar tanto daquela coisinha que ali está e que mais ninguém sabe que está.

A seguir começam as dúvidas...será que ele está bem? Vivo? Começamos a ler parvoíces pela Internet fora e começamos a estar atentos a histórias tristes, com finais horripilantes e imaginamos que isto nos vai acontecer a toda a hora. É uma correria para o wc, confirmar se está tudo ok, hmm parece que sim mas nunca vi isto, será normal? Todas as dorzinhas são sinais de alerta e as 4 semanas entre cada ecografia parecem meses... Saio de cada consulta com o coração completo, feliz...e essa sensação dá lugar a ansiedade conforme o tempo passa e se aproxima a próxima consulta.

A nossa vida passa, então, a ser por etapas. Chegar às tão aguardadas 12 semanas, é mais seguro dizem os livros, e queremos contar ao mundo! Das 6 às 12 semanas eu ia jurar que tinha passado meio ano...
Quando atingimos esse patamar, queremos o próximo. Queremos notar a barriga, sentir que ele está ali dentro e que todos o vêem. Começamos a achar que toda a gente está grávida de repente, só vemos barrigas gigantes a circular e imaginamos que um dia vamos ser nós, mas esse dia parece distante.

As coisas boas são as roupinhas lindas nas lojas, o sentimento de mãe que começa a surgir, a alegria todos os dias a acordar e saber que cresce ali dentro a coisa mais incrível da nossa vida. Mas tem más, desculpem mas tem...de repente sentimos que não estamos grávidas mas sim gordas! a barriga está longe de ser evidente, mas a roupa está pequena...as calças não apertam e as pessoas reparem que temos um mini pneu e ficam na dúvida. Há quem enjoe muito o que ajuda à festa, eu cá comi como se não houvesse amanhã, compensei a falta de tudo o resto (sim, eu sinto falta de um bom copo de vinho e sushi aos quilos...se calhar basta um ovo estrelado a escorrer por cima de batatas-fritas). Aqui sim começamos a pensar "espera lá, pára tudo, acho que não estou preparada para isto!".
Há depois aquelas pessoas que ajudam imenso:
- "ui, nunca mais vais dormir, esquece isso"
- "a tua vida muda, não penses que vais andar ai a sair à noite e tal...acabou"´
- "ainda é muito cedo, há muita gente com abortos nesta altura"
- "estás tão gordinha, bem me pareceu...mas olha que o pior está para vir"
- "tens que amamentar, já pensaste nisso? e o parto? natural! sem epidural ouviste?"

podia continuar por aí fora, e aqui entra este outro grande aspecto que mudou em mim e na minha vida: as pessoas. Percebemos quem são os nossos amigos, amigos de verdade...e lamento informar, são poucos! Vão perceber que grande parte das pessoas que vos rodeiam, não estão para aturar histórias de bebés, dúvidas de mãe de 1ª viagem e pessoas que não podem beber uns copos ou ir a sítios com muito fumo...que seca! E quando damos conta, ficámos meio isolados num mundo que ainda não conhecíamos. No início faz confusão, mas depois começamos a sentir uma paz enorme, e crescemos tanto, mudamos, damos menos importância a coisinhas destas, a histórias patéticas, aprendemos a sorrir e acenar sem que isso nos faça qualquer diferença, aprendemos a dizer não às pessoas porque a nossa prioridade agora é outra. Senti em mim uma força desconhecida, para proteger aquele mini-ser dentro de mim, eu sou capaz de tudo.

Um dia acordamos e olhamos para nós no espelho e pumba! está ali uma enorme barriga que já todos notam. Ficamos surpreendidos quando a senhora do jumbo nos sorri na caixa, ou quando nos dão o lugar na fila da h&m. Uau, nota-se? Começamos a ter aquele hábito de grávida de andar com as mãos na barriga...pois é meninas, isso acontece, mesmo que não queiram. Eu podia passar o dia inteiro a fazer festinhas nele, é tão bom. Começa então a altura em que nos perguntam se já o sentimos e as mães mais experientes descrevem a sensação. Passamos a estar atentas ao mínimo sinal e tememos confundir gases intestinais com o nosso rebento. Juntar a isso a ansiedade de saber o sexo, torna os 4/5 meses numa nova fase de eternidade e tempo parado. Surgem as primeiras prendinhas para o rebento, e começamos a querer tê-los mais perto, mais reais.

Eu faço hoje 25 semanas. Que sei eu de estar grávida? Muito pouco ainda. Sei que não passo mais de 5 minutos sem pensar nele. Cada fase é vivida intensamente. Descobrir às 16 semanas que é um menino. Descobrir às 21 a cara dele, o rosto. Descobrir às 24 que temos que ir fazer um exame mais aprofundado porque há dúvidas. Sofre-se como mãe. Há preocupações que eu desconhecia e agora sei que nunca mais vou estar 100% focada em mim como antes, isso acaba. E se não acaba, algo de muito errado se passa.

Não sei como são as outras mães. Mas eu quero que as próximas semanas passem a correr. Quero vê-lo cá fora. Na minha ingenuidade de grávida, eu quero que estas preocupações todas terminem... mas eu imagino que mal sei o que está para vir.
Talvez devesse aproveitar melhor esta fase em que ele está aqui só para mim, só meu. Posso levá-lo para todo o lado, sempre comigo. Sinto-o como ninguém nunca irá sentir e esta ligação é a mais forte que conheço.
Se calhar, mas só mesmo se calhar, vou ter saudades. Porque as mães são egoístas. E este piolho aqui dentro é meu, agora é muito meu e uma pequenina parte de nós teme como será quando deixar de o ser.



1 comment:

Anonymous said...

Sempre aqui para ti e para o pirralho :) <3