Thursday, May 31, 2012




Ainda ontem eras apenas uns grandes olhos com um cabelo enorme e escuro. Tanto cabelo, num rosto tão pequenino. Talvez eu tenha conversado demasiado contigo, tu preferes hoje permanecer calada e escutar atentamente os outros. A tua diversão era ouvir-me reproduzir os sons das bonecas e inventar um enredo. Todos acham que aprendeste tudo comigo mas não é verdade. Tu aprendes com o mundo. Observas o que quase ninguém vê, enquanto as pessoas te olham sem verem quase nada de ti, achando mesmo assim que te conhecem. Esse teu lado fugidio e selvagem, de quem pertence ao mundo, traz a vontade de te ter apertado mais enquanto ali estavas, te ter observado melhor, escutado melhor. Não tenho filhos, ainda. Não sei o que se sente. És a única imagem da saudade. Da certeza que não te volto a ver tão pequenina, aninhada ao meu lado, sempre de ar tão frágil, mas tão independente e rebelde ao mesmo tempo. Achei que nunca conseguiria estar longe de ti. Quando me armava em forte e mudava de quarto, acabava sempre por ir dormir ao teu lado.
Agora é tudo demasiado fugaz. É inegável o apertozinho cá dentro quando me envolvo em lembranças. Mas o orgulho fala mais alto e deixa-me deixar-te viver.
Parabéns.

4 comments:

Anonymous said...

tenho uma lágrima no canto do olho! este síndrome de irmã mais velha não facilita..
parabéns D ;)

Joana (Palavras que enchem a barriga) said...

Muitos parabéns :)

O teu texto está lindíssimo :D

Beijinhos!

Corre como uma menina said...

Adorei o texto! Até porque tenho um irmão mais novo e conheço esse Amor.

Beijinhos**

S* said...

É bom sentir esse orgulho. :) há pessoas mesmo especiais.