Thursday, June 24, 2010

não vejo a estrada, e começo a seguir os outros

30 minutos a conduzir sem direcção, completamente envolvida nos meus pensamentos, seguindo fielmente, como um cachorrinho segue o seu dono, os carros da frente que se amontoam em fila. Consigo conduzir, sem saber que o faço. Quando finalmente abro os olhos, não reconheço o caminho, não reconheço o que me rodeia. Sinto os batimentos cardíacos aumentar, penso que talvez não esteja perdida, que possa estar simplesmente confusa. Virei na direcção errada, sem sequer me aperceber. Tento lembrar-me do que fiz na última meia hora, agora parece-me incrível que tenha estado realmente a conduzir. Perdida. Apenas a seguir os outros. Será que ligue a dizer que vou chegar atrasada? Dou meia volta, percorro mais uns quilómetros, agora já desesperada. Encontro finalmente o caminho, acelero e tento permanecer concentrada. Quando tudo regressa à normalidade, quando passa o susto e a adrenalina, coloco de novo de lado os pensamentos que tive. Esqueço o “vou estar concentrada”. Perco-me em desvarios novamente. Não vejo a estrada, e começo apenas a seguir os outros.
Pensando bem, também vivemos muitas vezes assim, em modo automático. Seguimos, como cordeirinhos, os passos dos que estão à nossa frente, todos mal amontoados em filinhas intermináveis. Damos passos, sem sequer saber que os damos. Perdidos. O coração bate mais rápido, às vezes, ficamos ofegantes, com medo de perder tudo. Com medo de chegar atrasados à nossa própria vida. Será que ligue a dizer que vou chegar atrasada? Na maior parte das vezes, esquecemo-nos de viver realmente, desperdiçamos dias inteiros a viver por viver, agarrados com todas as forças a uma rotina que nos foi imposta. Quando nos deparamos com o fim de alguma coisa, quando nos metem à prova, juramos a nós mesmo que vamos viver mais, aproveitar mais. Mas depois acabamos por esquecer, é mais fácil viver assim. Não vejo a estrada,
e começo a seguir os outros.

2 comments:

Poetic Girl said...

Já me aconteceu, é deveras assustador quando te dás conta que não te lembras do percurso percorrido. Nada vida, também o fazemos como referes, mas eu agora já abri os meus olhos. bjs

Rita said...

também sofro disso!